O grupo de investigação do Mar Profundo do OKEANOS acaba de publicar um artigo que destaca a importância de democratizar a investigação em mar profundo para uma gestão mais justa e sustentável da biodiversidade.
Perante a escassez de dados sobre os ecossistemas marinhos profundos, a equipa liderada por Telmo Morato e Marina Carreiro-Silva mostra como o uso de tecnologias de baixo custo pode reforçar a capacidade científica local, promover a equidade e inclusão na investigação e gerar informação essencial para a conservação dos oceanos.
Em destaque está a Azor drift-cam, uma ferramenta desenvolvida nos Açores que permite explorar o fundo marinho de forma económica, eficiente e acessível. Desde 2019, este sistema já realizou mais de 1.180 mergulhos entre os 200 e 1.200 metros de profundidade, cobrindo 630 km de fundo marinho e registando mais de 90.000 observações de biodiversidade.
Uma pequena parte da informação científica obtida através deste sistema foi essencial para fundamentar a criação da maior rede de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) do Atlântico Norte, colocando os Açores no centro da política internacional de conservação marinha.
Como sublinha Telmo Morato, “graças a esta tecnologia de baixo custo, o arquipélago deixou de depender de ciência conduzida por países com maior poder económico e afirmou-se como um hotspot global de investigação marinha liderada localmente.”
A Azor drift-cam, alinhada com o movimento maker e a filosofia open source, representa um passo decisivo para a democratização da ciência do mar profundo, promovendo uma investigação mais sustentável, colaborativa e acessível a todos.